Mensagens de associadas sobre a greve
Nosso posicionamento perante a sociedade define quem somos
Dirijo essa reflexão aos assistentes sociais do TJ de São Paulo, entre os quais me incluo nos últimos quatro anos. Também aos psicólogos, com quem compartilhamos o trabalho dos setores técnicos.
Nos diversos contatos com os assistentes sociais e psicólogos do TJ, em treinamentos, em contatos informais, em grupos de estudo, considerei um alento o fato de encontrar pessoas que se posicionavam de forma tão crítica à respeito de questões importantes relativas ao nosso trabalho, à relação hierárquica e autoritária, ao não reconhecimento e valorização das nossas ações, expresso pelas difíceis condições de trabalho, pela falta de espaço de diálogo, pela crescente demanda e falta de profissionais suficientes e é claro, pelo salário insuficiente e defasado há vários anos.
Congratulei-me também com as posições verbalizadas de defesa dos direitos dos segmentos fragilizados que são partes dos processos nos quais atuamos, atentando para a não judicialização da pobreza e de um modo geral, das questões sociais. Isto sob pena de incorrermos inclusive em conflitos com o nosso próprio Código de ética, que fala dos direitos de cidadania, da luta por liberdade.
Hoje, diante do movimento de greve iniciado a partir assembléia do dia 28 de abril após a definição de uma série de reivindicações, inclusive a reposição salarial referente à inflação, que deveria legalmente ser feita pelo TJ, vejo com espanto a posição assumida pelos assistentes sociais ou a falta de posicionamento crítico na sua condição de cidadão, posição que não é minimante coerente com discurso dirigido aos usuários dos nossos serviços, à população que atendemos, em direção à quem nos colocamos, como estimuladores de consciência crítica, de modo a poderem protagonizar lutas na direção de condições mais dignas de vida, para uma sociedade mais justa.
Causa-me espanto e decepção perceber que, na condição de cidadãos, os profissionais de Serviço Social sequer conseguem ter claro o seu lugar de trabalhadores que vendem sua força de trabalho, em muitos casos, nas piores condições.
Causa-me espanto que, ainda assim, o posicionamento de maioria dos assistentes sociais mostra, ironicamente, uma identificação com a perspectiva ideológica da alta hierarquia do Tribunal. Parecem viver a fantasia de um lugar de poder. Entendo ser essa uma perspectiva ilusória e destituidora de identidade e dignidade, aquela necessária para que possamos andar de cabeça erguida. Olhar para nossos filhos, familiares, pessoas que atendemos e sermos respeitados, porque somos coerentes e podemos dar segurança nas nossas orientações. Isto porque, quando perdemos a dignidade, jamais seremos respeitados.
É desnecessário falar de todas as dificuldades enfrentadas pelos setores técnicos, que dizem respeito a condições de trabalho, sobrecarga, salários insuficientes e outras tantas questões, que foram abordadas inclusive nos espaços coletivos dos encontros dos setores técnicos.
Hoje cerca de 80% dos funcionários da Comarca de Mongaguá (já fomos 60%), se encontra em greve, em busca de melhores condições de trabalho e vida.
Encaminhei tais reflexões aos colegas do grupo de estudos “Adoção II”, do qual participo, na medida em que, até quinze dias atrás encontrei poucos deles na Praça João Mendes e em greve.
O nosso trabalho é extremamente importante, mas se dá num contexto específico, em dadas condições. Reafirmo que nós, assistentes sociais e psicólogos temos nos expressado de forma sensível e crítica no que se refere à exclusão, à violação de direitos, à ética necessária, às contingências enfrentadas pela população com a qual atuamos nos processos que atendemos. Acredito, precisamos pensar com a mesma criticidade, preservando direitos e dignidade quando se trata de nós, profissionais e cidadãos.
Estas são razões pelas quais me mantenho no movimento de greve, que se intensificou e acirrou os ânimos nas duas últimas semanas, devido à posição intransigente e truculenta assumida pelo Presidente do TJ, beirando à barbárie, remetendo-nos ao século passado, buscando enterrar avanços já sedimentados na nossa sociedade.
A adesão agora a este movimento é imprescindível para que possamos sair vitoriosos, com a conquista de reposição salarial, pagamento dos dias parados, cujo desconto será decidido após a decisão final do dissídio, como diz a lei, Plano de Cargos e salários (já conquistado). OS BENEFICIOS SERÃO PARA TODOS, NADA MAIS JUSTO QUE ESTA LUTA SEJA DE TODOS.
Colegas permitam-me este desabafo. Manter-se no movimento, com as tensões das assembléias locais, regionais, da AASPTJ e estadual é muito desgastante. Mais do que se estivesse trabalhando. Considero-me muito comprometida com o trabalho que faço, com as demandas, com os compromissos assumidos que estão à espera. E esta, é a mais dura e sofrida pressão interna que vivo. O TJ está se colocando da pior forma possível, fazendo com que se estenda esta greve em prejuízo de todos.
Peço aos colegas que reflitam e, pelo menos na próxima semana, se incorporem à Greve, para que possamos dar fim a este desgastante impasse.
Abraços,
Ana Lucia dos Santos – assistente social – Comarca de Mongaguá. – em greve desde 28.04.10.
"Alguns defendiam suspender a Greve para pensar, mas o POVO DO INTERIOR resolveu a todos calar.
As assistentes sociais e as psicólogas convidaram todos a vigiar, e depois de algumas piadas resolveu-se que isso pode funcionar!
A truculência aumentou e a polícia recebeu ordens de as faixas tirar.
Descemos todos! Não, as barracas e NÓS vamos ficar.
Propôs-se que deviamos adentrar e no Silêncio dos nossos direitos, uns foram lá ocupar.
As entidades representativas na Praça deixaram-se ficar,
Quem quis pode falar e depois das propostas o POVO
decidiu a Greve continuar.
Nos andares do Palácio e na Rua ficamos a aguardar.
Sete foram recebidos para por TODOS GRITAR.
Cumpram nossos direitos e queiram nos respeitar.
Nunca mais desejem por CIMA DA GENTE PASSAR!!!
10% FAZ UMA GREVE!
Agora sabemos que uma Andorinha não faz verão, mas o ninho está lá!
Quem ele chegou, pode para sempre se orgulhar!!
Quem não pode aguentar a qualquer momento pode voltar.
Quem quiser vir, o verão vai aumentar e quem não quiser, só não pode atrapalhar!!!
Zelia dos Santos, psicóloga de Jundiai