Comissão do assédio moral: Palestra sobre desgaste mental e assédio moral marca última reunião do ano

Autor: 
Ana Carolina Rios

 

A última reunião da Comissão do Assédio Moral foi marcada por uma aula sobre saúde mental relacionada ao trabalho e assédio moral. A convite da AASPTJ-SP e do desembargador Antonio Carlos Malheiros, a médica psiquiatra e professora aposentada da USP, Edith Seligmann-Silva, fez importante e esclarecedora palestra sobre a temática para os membros da comissão e para um grupo de assistentes sociais e psicólogas do Serviço Psicossocial Vocacional, no último dia 13 de dezembro. Edith foi a consultora da pesquisa sobre saúde dos trabalhadores do Judiciário, organizada pela AASPTJ-SP em parceria com outras entidades.

De acordo com a especialista, o assédio moral é apenas uma das faces das diversas formas de violência institucional do mundo do trabalho. Esta violência pode se dar de forma individual ou coletiva. “O trabalho é algo que dá sentido à nossa vida, que nos torna seres sociais. Como isso pode se tornar adoecedor? Em certos contextos, quando há mudanças de valores e das formas de administrar o trabalho são contaminadas por inversões de valores que atingem o mundo contemporâneo, as pessoas têm sua saúde física, sua saúde mental e até sua vida pessoal desgastadas”, expôs.

A professora classifica o desgaste mental basicamente em três tipos:

Desgaste literal: transtornos mentais orgânicos. Por exemplo: sequela de trauma cranioencefálico por acidente de trabalho, dano por neurotóxicos.

Desgaste funcional: alteração psico-fisiológica – estresse- podendo levar, por via psicossomática, ao dano orgânico.

Desgaste simbólico: por perdas, deformação ou degradação de valores e sentimentos: alterações de identidade, corrosão do caráter. Desgaste da esperança.

Edith explicou que vivemos atualmente um quadro de “expansão do medo” (expressão do autor Zygmunt Bauman), marcado pela incerteza e insegurança. Esta conjuntura provoca o acirramento da competição e do individualismo. “Há uma quebra da solidariedade, é o salve-se quem puder”.

A professora também falou sobre a influência que o neoliberalismo do mundo corporativo tem tido no setor público. Há uma forte tendência a um gerencialismo que privilegia a política de metas e gestões em detrimento da implantação de políticas sociais. Há um esvaziamento da função social do serviço público em troca de uma instituição cada vez mais burocratizada, individualista e corporativista.

As lições trazidas pela especialista serão fundamentais para as próximas discussões da comissão e para se pensar em políticas preventivas do Tribunal de Justiça.


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